Flores
É meia noite ainda
E o nevoeiro já confunde o clima
As luzes da rua
Somem na neblina
E nós aqui uma bike e um isqueiro
Uma garrafa de orloff e uma fogueira
Os carros sobem na avenida
Avisam não identifica
A quebra é zica
Quantos casos de chacina na esquina
Só quem viu de perto o hospital lotado
Correria na emergência
Corredor ensanguentado
Morria naquela hora o filho de dona Regina
Outra vítima que nem conheceu a própria vida
Mas vou esperar o sol com o alívio que Deus mandar
E emanar cada quebrada, cada rua, cada lar
E esse é meu lugar
Onde os dias cinzentos não tem fim
Mas as flores brotam mesmo assim
As flores mais bonitas
Nascem onde ninguém cultivou
Nascem sobre as pedras
Sobre a cela de um presídio
Nas ruas de terra
Na favela sobre o lixo
Onde tem amor
Chorar faz parte nego é o jeito
Vou vencendo o medo
Entre ruas e becos
O certo mesmo é ser o mesmo
Na rua logo cedo uma blante
Um isqueiro, numa fuga interior
Só precisando de um momento
Ainda me lembro outros clima
Altas mina, coisa fina
Aniversário do colombiano na rua de cima
Tudo branco
É so neblina
Mas lembra a cocaína
Aqueles dias de planeta China
Hã ô rotina
Ô lembra não fi
Tempo não volta neguin
Se falar o quanto eu sorri
Vamo amanhecer aqui
Fogueira clareia o muro
E hoje não tem beco escuro
Não tem mansão mas tem alção
No barraco dos fundos
Hã e esse caminho de flores
Pedras e espinhos
Um só destino difícil alcançar sozinho
E sei que minhas armas
Serão fracas contra as dores
Vou sangrando sobre a guerra
Entre lágrimas e flores
As flores mais bonitas
Nascem onde ninguém cultivou
Nascem sobre as pedras
Sobre a cela de um presídio
Nas ruas de terra
Na favela sobre o lixo
Onde tem amor