Mulato Serafim
Parido lá nos galpões
Entre pelegos e arreios
Umbigo cortado a faca
Atado sem muito asseio
Serafim, a Deus-dará
Veio ao mundo porque veio
Sem eira, beira, sem nada
Deserdado dos brinquedos
Pitando do ressequido
Empessou o batente cedo
Não teve tempo pras letras
Foram escassos seus folguedos
Vassalo do sol a sol
Serafim, filho bastardo
Sua infância se fez homem
Brincando ao braço do arado
Aos gritos de pega-pega
Boi guri, boi desgarrado
Mistura de duas raças
Sovou tentos, foi guasqueiro
Muitas vezes peão por dia
Outras vezes peão caseiro
Transportou cargas de sonhos
Nas lidas de carreteiro
Esporeado pelo tempo
Implacável cavaleiro
Sofreu baguais sofrenaços
E no fim de seus janeiros
Vive negaceando changas
Sina de tantos campeiros
Vassalo do sol a sol
Serafim, filho bastardo
Sua infância se fez homem
Brincando ao braço do arado
Aos gritos de pega-pega
Boi guri, boi desgarrado