Memórias de Um Peão
Aquela estrada preta de asfalto quente
Já foi um dia vermelha e empoeirada
Pisoteada pelos bois e os cavaleiros
Que lentamente transportavam a boiada
Ia na frente um valente boiadeiro
Chamando os bois pra boiada não estourar
Com seu berrante estremecia o grotão
Suas viagens pareciam não findar
O dia inteiro era uma luta arrojada
Um boi valente, outro que extraviava
O sol poente indicava o fim do dia
Quase sem forças chegavam na pousada
Depois do rango sempre tinha um companheiro
Bom violeiro para alegrar os peões
Ao som da viola esqueciam o cansaço
Sapateavam e curtiam as canções
Daquela lida hoje só resta a saudade
Dos boiadeiros de um tempo que longe vai
Quando eu vejo um caminhão e a boiada
No inconsciente ouço um berrante a tocar
Não fui peão, mas me lembro com detalhes
Ao recordar dá vontade de chorar
Pois o berrante que soa em minha mente
É de um velhinho, esse velho é meu pai
Foi o progresso que acabou com os boiadeiros
Pôs asfalto nas estradas, caminhões a transportar
Hoje a boiada já não pisa no estradão
E as memórias de um peão jamais irão se apagar
Hoje a boiada já não pisa no estradão
E as memórias de um peão jamais irão se apagar