Presente de Carreiro
Por eu ser o primeiro herdeiro
Dois bezerros do meu pai ganhei
O meu velho carreiro estimado
Nessa lida também me criei
No terreiro da nossa fazenda
Os bezerros eu mesmo amansei
Fiz a canga de pau roxinho
Os canzis da cor de matinho
E as brochas de couro trancei
Com vinte anos formei a boiada
Cinco juntas de boi pareado
O meu carro fiz de sucupira
De cabreúva um eixo torneado
Os fueiros veio da capoeira
E os cocão ficou bem ajustados
De taboca eu fiz uma esteira
Foi tirada numa sexta-feira
Na minguante do ano passado
A idade está me tombando
E então deixei a profissão
A boiada soltei lá no pasto
E meu carro guardei o galpão
Me orgulho de ser um carreiro
E mantive nossa tradição
Com saudades do tempo que foi
E nas festas de carros de boi
Muitas vezes eu fui campeão
Minha vida passei carreando
E dei descanso pra minha boiada
Muitas vezes dormindo escuto
O chocalho de uma guiada
E acordo gritando com os bois
Abro os olhos e não vejo nada
Mas se ouvir o meu carro cantando
É este carreiro que está mudando
Lá pra derradeira morada