Sinal Aberto
o sinal abriu…
vou na multidão e sou de gás, óleo diesel e sangue
sinto o cheiro do povo, o olor incerto, suado do povo
estou na multidão e vamos todos juntos e na mesma direção
neste verde agora
o sinal abriu e avançamos todos lado a lado uns com os outros
temos contas a pagar responsabilidades encontros à nossa espera
temos o tempo imperdoável em nosso encalço e somos mortais
temos também amores em nossos peitos, esperanças acesas
uma mãe segura uma criança pela mão e a criança caminando
aprende a vida a ser homem no centro da colméia humana
o sinal abriu, estamos todos indo na mesma direção
o passo firme, seguro, marchamos rumo à vida e ao amor
atrás de nós o céu de chumbo da existência pesa em nossos ombros
a mistura tóxica de asfalto gás carbônico e solidão nos sufoca
não temos fórmulas nem equações mas estamos lado a lado
o pássaro da concórdia está sobrevoando nossas cabeças
cruzamos a vida e a larga avenida há pouco todos juntos
todavia já não estamos, debandamos rumo ao nada
um virou à direita, outro à esquerda, outros ficaram para trás
a mulher com a criança sumiu dentro da fumaça das descargas
agora somos mais como os ferozes automóveis que desafiávamos
eu entrei neste prédio vazio e estou aguardando o elevador ordinário
lúgubre que não me conduzirá ao andar de cima
e penso: por um instante quase de braços dados marchávamos todos
a vida parecia tão possível, a vida escrita em letras maiúsculas
e tudo era tão belo que até o impossível teve medo de nós