Saudades de Peão
O galo canta, nas campinas o gado berra
A neblina cai na terra traz um raio de ilusão
A Lua cheia nasce por detrás do morro
Mas não gane meu cachorro nem relincha meu burrão
Que não consola este filho brasileiro
Hoje velho sem dinheiro, desolado no galpão
Eu não conformo com a tralha empoeirada
Me lembro das madrugadas que eu deixava meu rincão
Minha baldrana onde sempre tive os bagos
Olho nas balas de aço que ficou no cinturão
Mas eu compreendo que nos quatros continentes
O progresso, minha gente, engrandeceu a nação
O meu berrante pendurado na parede
Minha capa, minha rede, a guaiaca e o gibão
O meu chapéu, a bombacha e minha bota
Pendurado na vigota, o meu laço e meu facão
Meu trinta e oito e a chilena prateada
Minha faca parelhada que me traz recordação
Meu lenço branco faz lembrar o moço forte
Pioneiro do transporte, capataz de profissão
Quando eu avisto as jamantas carregadas
Eu me lembro das boiadas que eu puxava no sertão
Mas não condeno o expresso boiadeiro
Que transporta os pantaneiros e a saudade de um peão