Mãe de Carvão
Montado no lombo da louca saudade
Deixei a cidade, voltei pro sertão
Fui ver minha casa na velha fazenda
O rancho, a moenda, o velho galpão
Cheguei de mansinho olhando pros lados
Meus olhos molhados de tanta emoção
Passei a cerquinha de arame farpado
O angico encorpado me olhou do espigão
Na porta do rancho, bem rente à soleira
Esbarrei na roseira, levei um arranhão
A linda roseira de rosas vermelhas
Puxava a orelha do filho fujão
Passei a saleta e fui pra cozinha
No canto ainda tinha o velho fogão
Olhei pra parede meus olhos pararam
E meus pés ficaram pregados no chão
Revi na parede um rosto traçado
Que há tempos passados eu fiz de carvão
O tempo e a chuva molhou o reboque
E fez o retoque com tal perfeição
Me fez eu criança envolto na manta
No colo da santa seguro em tuas mãos
Seus olhos estavam radiantes de brilho
Segurando o filho e dando a benção
Fechei os meus olhos rezei para ela
Pintada na tela da minha ilusão
Mãezinha querida, meu grande tesouro
Você é de ouro e não de carvão
No mundo onde ando de loucas estradas
Eu sei não sou nada sem sua proteção