Palhaços Encapuçados

Dulce Pontes

Mais uma vez cá estou junto às profundezas
Meu lado negro quando teima aqui ficar
Mexe e remexe
Do fígado às miudezas
Todas as minhas certezas já mudaram de lugar

Mais uma vez cá estou junto ao precipício
Na teimosia de em tudo encontrar sentido
Mas afinal, se o final não teve inicio
Entre a virtude e o vício
Onde é que vamos parar?

Larilolela, se eu soubesse o que ser hoje
Mas não aprendo
Já estou em outro lugar
Os meus ponteiros andam tão desorientados
Relógios galvanizados
Num eterno despertar!

Ai Deus, ai Deus, chega de falar de mim
Os meus amores lá em cima do telhado
São tantas dores quantas dos partos que fordes
Quantas sortes tendes hoje, quantas vidas, quantos fados?

Com os diabos, nada é o que parece
E o que padece mais tarde se recupera
E quem são estes palhaços encapuçados
Morcegos desorientados que não param de sugar?

Que maravilha, o primeiro já caiu
E muitos mais hão-de cair a seguir
Porque o poder mata e esfola sem cessar
E não pertence a ninguém
É do bombo popular!

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