Invernada do Tempo

Alto Monte / Teotônio Paranhos

Eu gostaria que voltasse novamente
Um pedacinho do que era o sertão
Para que alguém se deparasse com a verdade
E ver de perto carro de boi no estradão


Carro e carreiro sussurrando nas manhãs
E o tinido das argolas no ferrão
Este transporte sei que não existe mais
Só resta a história resumida em canção


Carro velho virou lenha e carvão
Assou a carne do mesmo boi que o puxou
Carro velho que não roda nunca mais
E seu carreiro para sempre descansou


Carreiro e boi cada um teve um destino
Depois que os homens transformaram o sertão
Trocando o carro pelas máquinas pesadas
Pobre carreiro morreu sem a profissão


Subiu o morro da invernada do destino
Levando mágoa, desengano e paixão
E os bois cansados que não tiveram salário
Virou churrasco lá na mesa do patrão


Carro velho virou lenha e carvão
Assou a carne do mesmo boi que o puxou
Carro velho que não roda nunca mais
E seu carreiro para sempre descansou


Carreiro triste hoje carreia no infinito
Além das nuvens para sempre foi morar
Grita seus bois no planeta estrelado
Carrega os anjos pelos campos do luar


Aqui na Terra com a grande evolução
Este carreiro não pudesse trabalhar
Carreiro e boi estão na invernada do tempo
Fez o passado para o poeta contar


Carro velho virou lenha e carvão
Assou a carne do mesmo boi que o puxou
Carro velho que não roda nunca mais
E seu carreiro para sempre descansou

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