Estopim do Canhão

Francisco Ramos

Rico só compra à vista
Pobre só na caderneta
Rico gasta o ano inteiro
O pobre só na colheita
O rico já tem de sobra
E o pobre nunca se ajeita
Mas se o Brasil entorta
O rico não se importa
É o pobre quem endireita


Meu pagode não se rende
Nem bate o joelho no chão
Meu pagode hoje acende
O estopim do canhão


Trabalho de rico é leve
É melzinho na chupeta
O pobre já pega cedo
É no cabo da marreta
Se o rico inventa guerra
O pobre enfrenta a baioneta
Sem o estudo do pobre
Vai com certeza o nobre
Lá pro fundo da gaveta


Meu pagode não se rende
Nem bate o joelho no chão
Meu pagode hoje acende
O estopim do canhão


É o roceiro que alimenta
A fome deste planeta
É a enxada que cultiva
O conforto da caneta
Enquanto o rico desfruta
O pobre tá na sarjeta
Sem a labuta do fraco
Não tem farinha no saco
O Brasil fica perneta


Meu pagode não se rende
Nem bate o joelho no chão
Meu pagode hoje acende
O estopim do canhão

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