Mocó
MOCÓ
[Chico César e Zeca Baleiro]
quem de pirapora é
de arari ou catolé
ou de uberaba vem
trouxe o coração no trem
quem na vida vem vagar
casa é qualquer vagão
forasteiro no lugar
mas do mundo cidadão
itabira onde será?
santo amaro? santantão?
é a síria o ceará?
é sahara o sertão?
é incerto onde morar
demorar, marcar o chão
demarcar onde amar
só dentro do coração
quem deixou o piancó
seu lugar num cafundó
pra alugar sem fiador
uma vaga num mocó
quem movido pela fé
se atirou nesse mundão
para ir aonde der
derramar amor paixão
nas marquises se abrigar
ou brigar na estação
para poder viajar
no degrau do lotação
quem os olhos a brilhar
na mais funda escuridão
sonha ter o seu lugar
para além da solidão
moça vem de mossoró
para zanzar só na sé
há uns metros do metrô
foi menino, hoje é mulher
teve catapora lá
em ponta-porã casou
com um poeta de além-mar
que o oceano atravessou
e agora ao deus-dará
que horas são em santarém
senta no chão pra chorar
quem me dera ser alguém
dói a flor do grão-pará
carapicuíba, frio
às vezes dá um vazio
mas viver é não parar