Cherimoias

Leo Afonso

Moacir plantava cherimoia em Pindamonhangaba
Por oito horas por dia ele trabalhava
Nas terras de seu sogro agricultor
Cabelos cor de palha
Tão foscos que se algum desavisado olhasse
Para o seu rosto até imaginava
Que alguém tinha aplicado um filtro blur
E a bela Úrsula

Esposa de Moacir, o esperava em casa
Tentando não sentir o tempo que passava
Enquanto ela varria o quintal
Casou-se aos quinze anos. Agora com dezoito
Antes tinha muitos planos
E agora imaginava se a vida era mais
Que roupas num varal
Um dia um cacheiro viajante
Apareceu na estrada

Enquanto Moacir cravava sua enxada
Nas terras do Vale do Paraíba
Ouvira na cidade
Que a esposa de um certo matuto fosco
Era a portadora do mais belo rosto
Que ele veria em toda sua vida
Abriu a sua mala para Moacir e
Lhe mostrou emplastros e elixires
E para a senhora, perfumes por um preço camarada
E o fosco plantador de cherimoia
Achou que Úrsula gostaria dessa história
E indicou a sua casa

Que ficava no fim daquela estrada
Úrsula, quando viu o cacheiro
Logo se encantou com o seu cheiro de dinheiro
E com conversas sobre a vida lá no Rio de Janeiro
E o vendedor, que era belo de se ver
Lhe prometeu luxo e amor
Mas só lhe deu DST
E a moça se perdeu

Em arrependimento e desespero
Moacir recebeu a notícia de um camarada
No fundo do Paraíba do Sul estava
O corpo de Úrsula, seu amor
Em sua fosquidão ele não entendeu nada
E um ano depois, casou-se com a cunhada
E ainda planta cherimoias
Nas terras do seu sogro agricultor

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