Silêncio do Berrante
Coitado do Zé Marreiro
Que já foi bão boiadeiro
E agora não é mais nada
Hoje vive aborrecido
No seu rancho escondido
Lá bem longe das boiada
Vou contar seu passado
Esse moço era casado
Com uma linda caboclinha
A cabocla era o amor
E mais linda que uma flor
Se chamava Mariquinha
Ele transportava gado
De Goiás pra outro estado
Demorava pra vortá
Mas também quando vortava
Lá de longe ele tocava
O berrante pra avisá
Ela conhecia o toque
Sem fazer nenhum retoque
Dava um pulo no instante
E alegre ela corria
Para o lado que se ouvia
O chamado do berrante
E correndo em disparada
Pra arcançá ele na estrada
Que tamanha ansiedade!
Dava um bote que nem louca
Pra beijá ele na boca
Na loucura da saudade
E um dia ele chegando
E o berrante arrepicando
E jamais foi atendido
Apareceu uma vizinha
Que contou que a Mariquinha
Já então tinha morrido
Foi assim que ele sumiu
Nunca mais ele se riu
Desse dia por diante
Ainda guardo na memória
Não esqueço a história
Do silêncio do berrante