Filho Ingrato

Anderson Bardot

Eu nem sempre quis ficar só
Mora em mim o compasso do receio
Sobre a tutela do contra-canto do filho ingrato

Mesmo que de barganha em mim
Bordei no beiço aquele beijo que medi
Na mão fita que leva e trás
Num acerto entre o amar e sufocar

Se eu disser que ontem eu tive um pesadelo com você
Uma extensão do meu cinismo
Um braço sem algema uma fogueira sem fagulha viva
Torço as horas pra bater a eterna hora do jantar
Na mesa a tua felicidade e o meu amor de sobremesa
Eu sei que a conta é muito alta pra pagar

Me deixa ao sol pra ferver a cabeça
E põe na mesa a sopa fria de todo dia
Garfada lenta e desejada pelas ondas do segundo
Eu crio o meu mundo que soma ao seu
Eu quero um teatro só pra olhar de lado o meu semblante no teu
Eu quero o breu eu quero o fundo
Eu quero o teu podre submundo
Eu sou assim desejo assim e quero assim e assim serei

Apaga no peito aquela chama
Que me chama num contento tão dentro de ti
Desça até a boca do berço
Do desejo do terço que eu hei de pecar
Corte a minha paz meu vicio no atrito
No dito não dito
Pois diga e não me deixe sair viu
Não viu
Não viu

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