Terra Roxa
Um grã-fino em seu carro de luxo
Parou em frente de um restaurante
Faz favor de trocar mil cruzeiro
Afobado ele disse para o negociante
Me descurpe que eu não tenho troco
Mas aí há freguês importante
O grã-fino foi de mesa em mesa
E por uma delas passou por diante
Por ver um preto que estava armoçando
Num traje esquisito, num tipo de andante
Sem dizer que o tal mil cruzeiro
Ali era dinheiro pra aqueles viajante
Negociante falou pro grã-fino
Esse preto, eu já vi, tem trocado
O grã-fino sorriu com desprezo
Ocê não está vendo que é um pobre coitado
Com a roupa toda amarrotada
E um jeito de muito acanhado
Se esse cara for arguém na vida
Então eu serei presidente do estado
Desse mato ali não sai cueio
E para o senhor fico muito obrigado
Perguntar se esse preto tem troco
É deixar o caboclo mais embaraçado
Nisso o preto que ouviu a conversa
Chamou o moço com modo educado
Arrancou da guaiaca um pacote
Com mais de umas cem cor de abóbora enrolado
Uma a uma jogou sobre a mesa
Sinto muito não lhe ter trocado
O grã-fino sorriu amarelo
Na certa o senhor deve ser deputado
Pela cor vermeia dessas nota
Parece dinheiro que teve enterrado
Disse o preto, não regale o oio
Isso é apenas o rastôio do que eu tenho empatado
Essas nota vermeia de terra
É de terra pura massapé
Foi aonde eu plantei há sete anos
Duzentos e oitenta mir pé de café
Essa terra que a água não lava
Que sustenta o Brasil de pé
Vancê tando a mão na massa
Não lhe farta amigo e argumas muié
É com elas que nós importamos
Os tais Cadillac, Ford e Chevrolet
Para muitos mocinhos grã-fino
Andar se exibindo que nem coroné
O grã-fino pediu mil descurpa
Rematou meio desenxavido
Gostaria de arriscar a sorte
Onde está esse imenso tesouro escondido
Isso é fácil, respondeu o preto
Se na enxada tu for sacudido
Terra vale a peso de ouro
Mas o seu futuro estará garantido
Essa terra abençoada por Deus
Não é propaganda, lá não fui nascido
Essa terra é do Paraná
Aonde que está o meu rancho querido