Desengano
No arto daquela serra vi um passarinho cantando,
mais cantava muito triste, me dexô eu soluçando.
Feis alembrá dum passado, que fiquei imaginando
do tempo que nóis se amava, hoje triste desengano.
Eu vivo no meu ranchinho, com teu amor delirando.
Escuito batê a portera, como arguém que tá chegando.
Óio na curva da estrada, ancioso fico esperando,
mais ninguém não aparece, vorto pro quarto chorando.
Deito na cama e não durmo, se eu durmo já tô sonhando
que nóis temo num jardim, de braço dado, passeando
por entre a linda roseira, os passarinho cantando,
ai, cantava de alegria, de vê nóis se namorando.
Acordo e vejo sozinho, passo a noite soluçando.
O meu suspiro embrabece, no coração machucando.
O galo canta e manhece, a lua vai se apagando.
Ansim apagô o amô no teu coração tirano.