Minha História

Adelmo Vasconcelos / Toinho Vanderlei

O caboclo bom não foge da raia
Não se atrapaia, não corre do acoxo
Eu sou um caipira raquítico e feio
Só me aperreio se diz que sou frouxo

A minha história não tem nada novo
Sou filho do ovo que mãe fecundou
Depois que nascí deixei de ser feto
Só sei que sou neto do meu velho avó

Nascí numa noite sem lua sem nada
Um conto de fada garanto não foi
A minha parteira mulher arretada
Chegou bem montada num lombo de boi

Ela me pegou com muito cuidado
Eu todo melado lavou-me num tacho
E a minha mãe falando sem nexo
Perguntou o sexo, ela disse é macho

Meu pai pobre home sem conhecimento
Naquele momento chegou a chorar
A sua cultura era tão pequena
Chega dava pena vós me ce olhar

É que todos filho que antes nasceu
Só pouco viveu nenhum tava vivo
Depois de seis ano, que tempo maroto
Nascer um garoto foi fato festivo

Houve bebedeira e muito pagode
Matou-se três bodes e quinze capão
A festa foi grande com moça e rapaz
Como só se faz no puro sertão

Até os dez anos eu era bem forte
Caboclo do norte sem uma ferida
Mas depois dos doze já sem acalanto
Muitos desencantos mudou minha vida

Não tive estudo e sem formação
A educação foi feita na roça
Vivia fechado e sem muitos amigos
Mas tendo o abrigo da minha palhoça

Até que um dia morreu o meu pai
Sua imagem não sai, vive do meu lado
Seu corpo pequeno e seu rosto sério
Lá no cemitério ficou sepultado

Daí começou minha decadência
Perdí a ciência do que era bom
Fumava demais, bebia cachaça
Apenas desgraça ditava meu tom

Minha mão cansada, minha vista pouca
A minha voz rouca que antes foi forte
Escrevo as palavras com dificuldade
Não deixo saudade com a minha morte

Vivendo sozinho não tendo ninguém
Invejo quem tem saúde e amor
Estou esperando somente o meu fim
Não reze por mim nem me mande flor

Quero pouca gente seguindo o caixão
Não quero oração nem quero arranjos
Escreva no túmulo palavras profetas
Do grande poeta augusto dos anjos

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