Esperança - Viola Quebrada
Ary Kerney / Mario de Andrade
Quando da brisa no açoite a flôr da noite se acurvou
Fui encontrar com a maróca meu amor
Eu sentir n'alma um golpe duro
Quando ao muro já no escuro
Meu olhar andou buscando a cara dela e não achou
Minha viola gemeu, meu coração estremeceu
Minha viola quebrou, meu coração me deixou
Minha maróca resolveu prá gosto seu me abandonar
Porque o fadista nunca sabe trabalhar
Isto é besteira pois da flôr
Que brilha e cheira a noite inteira
Vem depois a fruta que dá gosto de saborear
Minha viola gemeu, meu coração estremeceu
Minha viola quebrou, meu coração me deixou
Por causa dela sou um rapaz muito capaz de trabalhar
E todos os dias e todas as noites capinar
Eu sei carpir porque minh'alma está
Arada, loteada, capinada com as foiçadas desta luz do seu olhar.