No Dia da Comunhão Solene
No dia da comunhão solene
Fui de camisa engomada
Calças de terilene
E a garganta apertada
O velho alcino barbeiro
Levou-me o cabelo à faca
Fez-me um corte à francesa
Com cheirinho a talco e laca
Que domingo deprimente
Eu ali de fato e laço
A sorrir para o retrato
Com cartilha e fita no braço
O retrato que aqui vedes
Na cómoda da minha avó
Sou eu, sou eu
No dia da comunhão solene
O meu pai com o seu olhar
A ralhar na catedral
Não fosse eu destoar
E manchar o ritual
Com medo de fazer errado
Concentrei-me até ao fim
Para não trair o ar enlevado
Que a família tinha por mim
Mas quando tudo acabou
Corri a casa disparado
E ao vestir a velha roupa
Fiquei logo confortado
O retrato que aqui vedes
Na cómoda da minha avó
Sou eu, sou eu
No dia da comunhão solene