Malhas do Fico
Troquei o meu sitiozinho e um poço de pescaria
Por um lote na cidade com casa de alvenaria
Quando troquei meu ranchinho pela nova moradia
A sorte quebrou meu pote e desmanchou a arrodia
Hoje num reduto estranho comendo o que a sorte dá
Preso nas malhas do fico não posso mais regressar
Fiquei sem sopro da brisa na sombra do pé de ingá
Curtindo telha de aranha dentro do meu samburá
Fiquei sem a cavalgada no lombo da mula baia
Pra fazer o vai e vem na casa da parentaia
Sem a curva do remanso onde as águas fez a praia
A saudade me machuca igual ferrão de arraia
Trabalho num sobe e desce de executivo e doutor
Meu dedo já criou calo de ligar o elevador
Na parede tem um quadro sem sanhaço e beija-flor
Sem detalhes de sertão no rabisco do pintor
A gravata me sufoca faz subir minha pressão
Meu pescoço pede um lenço do meu tempo de peão
Meu lugar é na fazenda no curral de apartação
E na estrada boiadeira montado em meu alazão