Senhora, Matei Seu Filho
Canos que cospem fogo ó
Nunca estão sós
Eu que aciono o gatilho
Não disparo só
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei, matei...
Se eu fecho os olhos, penso em não revê-lo
E nem tê-lo sussurrando nos meus pesadelos
Cada morte é um selo na capa do caderno
Que recomenda obtê-lo no céu ou inferno
Vento pelos cabelos nessa BR corro
Presto socorro e corro voo ao pronto socorro
S10 acelero, ouço berros e gemidos
No xadrez da minha rapa tem cara ferido
O fato ocorrido cinco metros de distância
Tudo tinha batido clamor da vizinhança
Para pegar um bandido, foi com muita semelhança
Com os dados obtidos com zero de discrepância
Cor das roupas ta de toca e capuz
Tudo bate me preparo pro combate Meu Jesus
Verbalizei e ele mete a mão na cintura
Ele tombou, ali cessou, caído nessa rua escura
Canos que cospem fogo ó
Nunca estão sós
Eu que aciono o gatilho
Não disparo só
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei, matei...
Ele só tinha um celular
E estava de fone de ouvido que impediu de escutar
Ele só tinha um celular
Agora está entre a vida e morte e não para de berrar
Ele não para de rezar, não para de implorar
De falar que se não morrer volta estudar
Pedindo pra eu o salvar, gritando ao me questionar
PM o que eu fiz para o Senhor me matar?
Sem saber o que pensar, só sirene da viatura
Ao expressar o desespero dessas criaturas
PM a patrulhar nessas ruas escuras
Ao deparar com um distraído que mete a mão na cintura
E começa a puxar eu não pago pra esperar
Sem tempo de me abrigar minha defesa é putativa
Vejo ele tombar faço uma revista cautelar
E tremo ao constatar que era só um celular a investida
Canos que cospem fogo ó
Nunca estão sós
Eu que aciono o gatilho
Não disparo só
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei, matei...
Porta, pronto socorro, coturno na catraca
Dando esporro: - porra alguém traga logo uma maca!
Na hora tempo voa, magias infernais
Bloco cirúrgico já sem sinais vitais
Agora o que a gente faz sargento?
- Não mandei atirar, esse é o meu argumento
Tu que vai segurar, eu nem vi o momento
Porque foi atirar agora é só julgamento
Sempre é o mesmo tormento, julgares com olhares
No dia turbulento que joguei pelos ares
Minha carreira a tempos meus familiares
Não me visitam, também não quero eles nesses lugares
Todo dia de visita recebo a mesma senhora
Que me abraça e recita uma reza enquanto chora
Toda vez ela me olha enquanto ora
E diz que me perdoa, se despede e vai embora
Canos que cospem fogo ó
Nunca estão sós
Eu que aciono o gatilho
Não disparo só
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei seu filho minha senhora
Matei, matei, matei...