Corações de Ferro

O blindado é nosso abrigo
A fúria é nossa chama
E o medo é nosso único perigo

A vitória é nossa dama
A história que aclama
Nossa fama embalsama
Se derrama sangue do inimigo

A minha casa é no solo onde o sangue é a manta
Eu não choro, eu não oro sinto a morte pelo cheiro
E quem canta só adianta a posição para o inimigo
Se levanta é metranca se entrincheira é morteiro

Sou o primeiro voluntário para ir para front
Faço o que for necessário para honrar minha bandeira
Meu coração é feito de ferro não espere que amedronte
Na garganta carrego berro da fúria mais verdadeira

A vida é tão passageira para viver conto de fadas
Minha alma é guerreira tipo aníbal de cartago
Queria viver nas primeiras guerras de espada
Mas a caçada é de blindado e eu faço o maior estrago

Meus olhos carregam fúria minha pele cicatrizes
Minha farda se orgulha de quem enverga seu tecido
A história sempre lembra dos guerreiros raízes
Não das meretrizes e desses traiçoeiros enrustidos

O blindado é nosso abrigo
A fúria é nossa chama
E o medo é nosso único perigo

A vitória é nossa dama
A história que aclama
Nossa fama embalsama
Se derrama sangue do inimigo

Cada inimigo abatido trago comigo suas medalhas
E tiro pelo umbilical os seus méritos
Tomo posse de cada alma desprendida nas batalhas
Minha baioneta, navalha nunca tem chance 2

De volta ao acampamento que na guerra é minha casa
Abutres rodam a procuram de alimento humano
Os inimigos desovados, em cova rasa
Os amigos amputados em leitos, sangrando

Eu sofro faço esforço pra manter a postura
Quando companheiros morrem ouço a voz do tormento
Me afasto vou no poço mais fundo da curvatura
Entre a lucidez e o desatino tento ter firmamento

Por um momento sinto consentimento pelo inimigo
Do outro lado vejo o mesmo sentimento interno
Nessa guerra todos sofrem todos perdem amigos
Mas minha missão é mandar o máximo deles para o inferno

O blindado é nosso abrigo
A fúria é nossa chama
E o medo é nosso único perigo

A vitória é nossa dama
A história que aclama
Nossa fama embalsama
Se derrama sangue do inimigo

A morte está ao derredor me sinto só acompanhado
Questiono a fé até o pé pisar em solo hostil
Estou no pior lugar do mundo confinado num blindado
Cheiro como moribundo me confundo com um servil

Tudo que minha alma viu meus olhos negaram
Minha mente não aderiu quando corpos queimaram
Ouvi a voz do meu fuzil quando elas falaram
O céu que era anil as nuvens acinzentaram

No meio do caos da guerra uma bela para fera
Olhei ela vi uma alma sincera e amei
Momentos escassos, o compasso do tempo erra
Foi uma eternidade o momento que a beijei

Planejei um futuro ali sentado lendo sua mão
Por um momento fiquei feliz me senti humano
Mas quem nasceu com minério dentro do coração
Só convive com o guerra e com adeus vai acostumando

O blindado é nosso abrigo
A fúria é nossa chama
E o medo é nosso único perigo

A vitória é nossa dama
A história que aclama
Nossa fama embalsama
Se derrama sangue do inimigo

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