Rotina

Diego Ferreira Dias

Atravesso as esquinas, ouço os cachorros latindo pro trânsito que não finda
Classe de trabalhadores, colecionadores de dores que vão cumprindo sua sina

Essa rotina é assassina, dia de folga é neblina
Difícil de enxergar, mas quando chega, a retinachega até a embaçar
Ela é fugaz como a vida,sigo sozin na avenida

Pensando nessa brisa com meu fone de ouvido
Ouvindo algum RAP antigo, ou algum samba esquecido
Por não ter flow de trap
Enquanto o mundo adoece esse é meu comprimido

E Bafomé quer tu de pé pra tu trampa até amanhã
O tempo sara, ele é um mago, eu já me vi no viatnã
Eu já me senti perdido, tipo no inferno de dante
A cada instante, me via insignificante

Uma mera engrenagem numa máquina de dinheiro
Uma lavagem descartada por um porco no chiqueiro
Um assassino de cigano. Desse mundo, um estrangeiro
A orelha de Van Gogh perdido no mundo inteiro
Mais uma operária voltando pro formigueiro
A minha vida é sem sentido se eu só trampo o dia inteiro

O vazio se apodera quanto mais eu penso nisso
Me sinto um buraco negro, gigante supermassivo
Quem dera se um dia eu fosse, alterava o tempo-espaco
Chegava mas cedo em casa sem pensar que isso fracasso
Mas isso é devaneio, puro suco do cansaço

Calma, Nim. Relaxa um pouquin
Senta na varanda, vai lá, lê um livrin
Mas tira uma fotinha e posta no Instagram
Com alguma frase vã
Pra depois, se pah, tu ganhar uns coração
E sentir, enfim, que seu dia não foi em vão

Ta, beleza, pode ser

"É isso aeh"

Que pera aí quanto tempo passou?

Duas horas e meia, ham, cê nem notou!
Esquece seus problemas, do seu chefe ruim
Vê mais um Tiktok, vai, confia em mim!

Não, perae não dá pra viver assim!

O Tic-tac do ponteiro anda me dando gatinho
Passo a mensagem, carteiro, e ainda faço trocadilho
O Nim não fica cansad, mais um verso bolado
Apesar de atrasado, fiel como escoteiro

Vida passivo-agressiva, ódio é louco, mas motiva
Mas minha locomotiva são coisas positivas
Como a beleza nativa tipo da minha rua
A rima cura, ela é paleativa
Eu amo rap, lek, viro FlapJack quando ouço um scratch

Eu tô falando contigo, que sente o sentido
De tudo que digo, então bota mais um rap antigo
Enquanto o mundo adoece, esse é meu comprimido

Eu já me vi no paraíso, Deus de terno elegante
Ao ouvir um boombap tocando no autofalante
Eu não sei se foi Emicida, ou se foi o Mano Brown
Se pah que foi um Freestyle feito pelo Marechal
Vi um sentido pra vida que não acaba no final
O que é feito por amor vai além do bem e do mal

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