Rap Dos Comentários

Álvaro Mamute

Diretamente da pélvis do pinguim!
Acordei de manhã e tinha um rap pra escrever
Essa vida de griot não tá fácil pra viver
Sentei na sala e liguei a televisão
Comendo doce de leite e duas fatias de pão

Lento tipo lesma
É o ritual das manhãs
Subi no busão, fugindo no meio das vans
Passei pela roleta mandando cambalhota
A galera do outro lado achou graça e me deu nota

Um parceiro levantou com cara de psicose
Disse pra eu tomar cuidado com a minha escoliose
E depois dessa nóia sentei no meu lugar
Colado na janela à sombra dos jacarandás
Mas não tem jacarandá de onde sai o meu busão
E se tem uma parada que tem muito é vacilão
E esses palhaços não entendem o que eu tô sentindo
Ah, vai rolar mais sangue que filme do tarantino

Esse rap não é sobre nada especial
É o rap do 315 que eu peguei na central
E se o flamengo não ganhou não tem nada de anormal
É o rap do 315 que eu peguei na central

Parando no primeiro ponto subiu um rapaz
Com uma cara de lagartixa e falando de paz
Fiz minha jaculatória mas continuei na mão
A catequese não acabava e não tinha explicação
Bateu aquela sensação que algo ia dar errado
E num é que deu? Sentou um paulista do meu lado
Cientista político, era chato pacas
Eu não entendia bulhufas do que ele falava

Começou em perestroika e acabou em gorgonzola
Eletrofunk no meu fone, eu fingia que dava bola
E de pirraça ele falou o que não podia falar
Bolacha, não!
Biscoito, manolo! Vai se ferrar!
Cheio de dor de cabeça, tomo ibuprofeno
Tem gosto de baunilha, mas é um puta veneno
Falta muito pra chegar mas penso em ficar na pista
Com certeza é melhor que o solilóquio do paulista

E ele salta antes de mim, vem um ajudante de ourives
O jovem gafanhoto é meu amigo victor yves
Com um colete mais feio que a dilma num blindex
Que deixava ele igualzinho a um tiranossauro rex
Dois ninjas entraram e assaltaram a gente
Mas eu só tinha um palmito e um melão fluorescente
Esqueci de um detalhe, o assaltante era anão
E não sabia usar crase igual metade da nação

Aquilo foi meio estranho, pensei "eu devo estar sonhando"
E a arquitetura da cidade foi logo desmoronando
Lembrei daquele filme que eu vi mais cedo
Que tem o mesmo diretor que o do homem morcego
Tava na minha escrivaninha, no apê de nilópolis
Do lado de um frasco de spray de própolis
Uma orgia de jumento e o maçarico ligado
Eu ainda tô dormindo ou já tô acordado?

Um búfalo veio, me ofereceu um pudim
Eles não costumavam ser tão legais assim
Uma antena parabólica?
Isso é meio randômico
Vou acordar de vez antes que fique mais cômico
Toca um disco daqueles que toca dentro do espírito
União de onomatopéias num sentido lírico
E constrói mais um berro, vindo de detrás da porta
Eu tô na sala de espera pro exame de próstata
Na tua virilinha pode crer que eu não caio
Mas se tá chovendo merda, irmão, eu sou um para-raio
Usei todos os comentários, pra não rolar neurose
Pneumoultramicroscopicossilicovulcaniconiose

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