Morada do Silêncio
Um retrato em sépia mostra na fachada
Uma antiga casa de há muito vazia
Seria só a imagem de um quadro esquecido
Não vivessem nela meus melhores dias
O tempo ainda recorda aquelas velhas horas
De vozes e risos celebrando a vida
Antes que o silêncio uma manhã chegasse
Despejando sonhos, cobrando a partida
É nosso destino, quem de nós não parte?
Desde que nascemos, do príncipio ao fim
E em cada partida morremos um pouco
Sempre em mais pedaços, partidos, enfim
Janelas que o tempo trancou para sempre
Portas em que a vida rendeu-se a tramelas
Corredores que sabem de passos sem volta
De sonhos vencidos fechando a cancela
No quarto vazio restou a lembrança
Do filho brincando na luz que apagou
A vela já não prende e o vento reclama
Nas frinchas da vida, cantigas de amor
Por vezes a saudade vem bater à porta
Feito um cão sem dono a buscar por nós
Mas só há silêncio: A casa está morta
E até seus fantasmas sabem que estão sós