A Lágrima do Toro
Terá a lágrima, a força
Da aspa do mesmo toro
Do sangue encarnado o couro
Do casco que abre a cova
Da fúria que se renova
A cada abano de pala
Ou do silêncio que cala
No escuro da lua nova!
Terá a lágrima, a alma
Do berro de um toro alçado
Do mesmo, a um céu estrelado
Em outra noite charrua
Que bebe claros de lua
Na restinga que se adona
E apronta uma vaquilhona
Num rincão de pampa crua!
Tem a lágrima, o feitiço
Que encanta e que desencanta
A todo o mal que se planta
Com ferro ou com desaforo
Portanto a gota de ouro
Que tiene un color de plata
Traz um pranto que se desata
Pela lágrima do toro!
Terá a lágrima, a essência
De salmora curandera
Uma alquimia campera
Que na raiva se despeja
E a fúria, que então flameja
Aos poucos desaparece
E todo o quadro enternece
Quando o toro lagrimeja!
Talvez só tenha uma lágrima
Bem mais triste e mais sentida
De quando o adeus da partida
Vem com a mágoa, em conchavo
Deixando no peito um clavo
E no lindo rosto moreno
Uma gota de sereno
Qual lágrima de toro bravo!