Tempo de Carreiro
No tempo da mocidade eu trabalhei de carreiro
Com oito bois reforçados e também muito ligeiro
O sertão da Bernardina fui eu quem cruzou primeiro
Subindo serra e descendo
Lavando carga e trazendo de janeiro a janeiro
A junta do cabeçalho, o letrado e o faceiro
Me dava muita firmeza na descida do changueiro
Eu fui um rapaz de gosto e falo sem exagero
Quando por lá eu passava
Uma cabocla me olhava sempre de olhos morteiros
Mais o tempo foi passando, o destino é traiçoeiro
Fiquei velho de repente sem patrão e sem dinheiro
Quanto tempo carreei, nunca tive candeeiro
Meu grito de ôla, ôla
Ficou embargando à-toa no chão do meu sul mineiro
Não vi mais meu velho carro, estimado companheiro
Por certo apodreceu lá no fundo do mangueiro
A boiada foi pro corte nas mãos de algum açougueiro
Pra dizer bem a verdade
Só resta mesmo a saudade matando esse carreiro