Árvore das Lágrimas
Numa estrada do nordeste daqui a muita distância
Existe uma arvore verde, tão verde como a esperança
Onde o estradeiro que passa em sua sombra descansa.
Num dia de seca brava, não me lembro qual o mês
Passei por lá, vi essa arvore, admirado fiquei
E para um velhinho que estava, ali perto perguntei:
- por quê é que neste sertão, torrado pelo calor,
Onde até as aves morreram e a mata se esturricou,
A lama trincou de dura e só esta arvore não secou?
Ele disse: “seo moço, nem eu sei bem pruquê é
Mas deve sê prum milagre que esta arve tá de pé
Pruque foi neste lugá que morreu minha muié.
Já faiz bem tempo, seo moço, eu cá muié e um fiínho,
Pra num morre esfomeado saímo pelos caminho
Em busca de outras parage como fais os passarinho.
A despois de longa viagem padecendo fome e frio
Chegando neste lugá maria não resistiu
E com o fiínho nos braço pra morrê ela caiu.
Ajoeiêi gritando: - maria, óie, eu tô aqui juntinho
Vancê num pode morrê me deixando aqui sozinho
Sem vancê cumé que eu faço pra criá nosso fiínho?
Maria já tava morta e meu fiínho a chorá,
Sobre seu corpo rolava querendo se amamentá
Até seu corpo sem vida se endurecê e gelá.
Vi meu fíinho mordendo aquela pele tão fria
Querendo mamá e aos poucos as suas forças perdia
E sobre o corpo da mãe, de fome também morria.
Puis maria num buraco, abraçada com o fiínho
E como se eles me ouvisse, ia falando sozinho
E fui enterrando minha vida, aos poucos, devagarinho.
Fiz uma cruz de aroeira e finquei neste lugá
Num sei se foi do meu pranto, de tanto e tanto chorá
Moiando a terra de lágrima essa cruis pegô brotá.
Os braços da cruis cairo, só o tronco é que agüentô
Criô gáio, foi crescendo, logo uma arve ficô
E esta arve que aqui tá, foi a cruiz do meu amor.
Tudo seca aqui em redor, só esta arve que não
Pruquê num deixo fartá meu pranto que móia o chão
São chuva que cai dos zóio, das nuvens do coração.
Até parece, seo moço, que esta arve tem coração
O espirito de maria nela feiz reencarnação
Seus gáio aberto são os braço de maria em oração
Pedindo a deus numa prece, mande chuva pro sertão.”