Jumento Louco
Igor Mangueira
Quando anoitece no sertão
Nem a coruja fica de pé
Não tem fé que dê jeito
É um medo desgraçado que cresce no peito
Devido aos mistérios da vida
É um vento que lhe definha
É um frio que corta a espinha
São as galinhas quietinhas, quietinhas no terreiro
É o candeeiro que se apaga
É uma agonia desgraçada
Porque não dá pra enxergar nada
É pouco chão e muito céu
É o mugido de um boi rouco que corre no breu
É o lamento de um jumento que enlouqueceu
Que não sabe que horas são
Se é noite ou se é dia
São seis horas, seu jumento
É a hora da ave-Maria
Ê, jumento louco, diga quanto tempo falta para amanhecer
Que eu ainda preciso dormir, que eu ainda preciso sofrer
Que eu preciso ainda sentir, que eu preciso ainda morrer
Jumento louco! Jumento louco!