O Açude É Um Céu Dentro da Água (part. Gustavo Teixeira)
De onde avisto a querência
O açude é um céu dentro d'água
Lâmina azul refletindo
Tudo o que o tempo deságua
Aprisionado em limites
Contido, longe se espelha
Pois entre as duas coxilhas
Surge uma várzea parelha
Tudo que o céu guarda em si
O açude mostra também
Menos as suas vontades
De querer ir mais além
Quando um desaba no outro
Com temporal e tormenta
Acordam as sangas por diante
Deixando a água barrenta
O açude em águas calmas
É tudo o que o céu quiser
Pois vive das suas chuvas
Ou de uma nascente qualquer
Nas margens da grama verde
O gado pasta a planura
E mata a sede das tardes
Bebendo o céu nas lonjuras
O céu se pinta em estrelas
Em águas anoitecidas
Que a Lua deixa de manso
Um risco em luz refletida
São nestas horas que a noite
Fica o olhar calmamente
O bote de uma traíra
Contra uma estrela cadente
O vento que empurra as nuvens
Faz maretas no açude
E o céu não para, espelhado
Torcendo que o tempo mude
Vão os dois pra o mesmo lado
Até chegar na vazante
O açude para nas taipas
E as nuvens seguem por diante
O açude é um céu dentro d'água
E a mesma cena ao inverso
Guardando dentro um mistério
Que existe em seu universo
Que as garças, que voam longe
Levam o céu pelas asas
Depois, devolvem ao açude
Pousando nas águas rasas
Passa tanto céu na água
E o açude segue o mesmo