Vem
Esquece tudo
e faz de conta que eu te amo
Apaga tudo
e voltemos para o nosso plano
Finge que meu te querer é amor
E que meu amor é verdadeiro
Que meu descaso é segurança
E que minha indiferença é respeito
Faz de conta que meu ciúme é amor demais
Que minha dependência é carinho
Que quando te peço fica
não é por medo de ficar sozinho
Fica mais,
não vai embora agora
Esquece o que eu disse
e vamos dar outra volta lá fora
Finge que só quero autonomia
E não sou omisso
Que quero liberdade
E não tenho medo do compromisso
(Que só quero autonomia
E que meu apreço não se desfaz
Nessa agonia)
Faz de conta que a nossa vida é nossa
Que quando faço tudo por ti
É por que te amo
E não porque não sei viver só, em mim
Finge que minha vontade de vencer
Não é medo de perder
Que nossa vida não é banal
Que estar junto é paixão e não um hábito sacal
Faz de conta que teu ciúme não me alimenta
Que tua indiferença não me atormenta
Que quando digo que não quero jogar
Não quero te controlar
Fica mais,
não vai embora agora
Esquece o que eu disse
e vamos dar outra volta lá fora
Que a chuva não demora a passar
E nós no vício de nós
Teremos outra hora pra errar
Nessa vida de poesia
A prosa revela a fantasia
Recôndida da alegoria