Em

Onde sou só escuto sirenes e motores
Onde estou quase não me escutam, só se movem
Onde vou sempre encontro decompositores
De onde venho é normal, poucos se envolvem

No centro desfoco, pertenço a série
Vinte e poucos anos, regular e repetente
Na mira do olho-vivo que não me digere
Recebendo culpa sem saber do remetente

O progresso poluindo tudo o que é possível
O homem ocupado demais fazendo progresso
Possibilidade binária e invisível
Mas pra quê brigar por mais do que temos acesso?

Me pergunto enquanto no mar de gente naufrago
Afogo as mágoas depois saio pra pescar
Pesco elas. Tenho câncer sem dar nenhum trago
No olho do furacão esperando o piscar

De olhos famintos, receio do recheio
Corpos à deriva fingindo autonomia
Dádiva intocável entregue ao manuseio
Do meio assisto ainda faço companhia

Prédios demarcam sua vaga pra envelhecer
Ponto pra bater em ponto sem interrogar
Pra dar fuga disso tem gente pra fornecer
Para convivência tem gente pra mendigar

Quase tétrico, teatral e aflitivo
Operários, mesmo no momento transeunte
Reticentes até em ponto facultativo
Trampe e desconfie de qualquer um que pergunte

Esse é o centro e os corpos que o completa
Tremenda cilada pra quem aguarda na margem
Bailar no concreto pra ter uma coisa concreta
Nem carece seta, só olhar como eles agem

Eles uma hora é você, uma hora é eu
A mercê da marcha, do Merchant. Merci
Pelo acolhimento no marco zero do breu
No centro, ao mesmo tempo fora de si

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