Mesmo

Mesmo que o corpo seja fácil
Mesmo que o tempo seja elástico
Mesmo que o vento seja estático
Mesmo que o amor seja estético

Mesmo que a ferida seja orgânica
Mesmo que a cura seja asséptica
Mesmo que a dor seja somática
Mesmo que o vício seja crónico

Mesmo que Deus seja poético
E todos os santos de plástico
Mesmo que a alma seja eterna
E toda a vida filosófica

Mesmo que o vinho seja azedo
Mesmo que o pão tenha veneno
E toda a solidão catártica
Mesmo que o lar esteja deserto

O coração está sempre aberto

Mesmo que a sina seja trágica
Mesmo que a luz me seja ténue
Mesmo que a água seja turva
Mesmo que o mar esteja revolto

Mesmo que a mão esteja trémula
E o pensamento seja insano
E a vontade for tirana
E perdoar seja difícil

E se a verdade for na queda
E o medo impedir a mudança
E o mito for sempre esotérico
E o Homem for sempre criança

Mesmo que o ódio seja eterno
E o fim do mundo seja em breve
Mesmo que o céu esteja encoberto
Mesmo que a morte esteja perto

O coração está sempre aberto

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