Autodidata

David Duarte

Por tantas vezes eu já quis mudar,
Só que não era exatamente por mim.
E, só achei quem me quisesse mostrar,
Que eu não chegava a me tornar tão diferente assim.
Todos os sonhos que eu deixei de sonhar,
E, tantas noites que eu passei sem dormir,
E, os caminhos que eu não quis caminhar,
Toda felicidade que eu deixei de sorrir.

Se eu já dormi na praça, e. já chorei de graça,
O mesmo pão que o mundo inteiro amassou.
Também cantei por dinheiro em casa de bacana,
A minha grana, quase nunca sobrou.
Mas era tudo lindo, as ilusões sorrindo,
O tempo que eu perdi foi justamente o que faltou,
O que faltou.

Nem quinze anos me largar para o rio,
Meus planos na br 116,
Pela primeira vez, eu soube o que era frio,
Definitivamente, eu não sabia o que era solidão.
O coração às vezes fica vazio,
Assim como se fosse um violão,
Mas só precisa alguém tocar de leve,
Pra que uma nota breve vire uma canção.

Eu já perdi carona, e, já beijei a lona,
E, mesmo a queda, não me fez desistir.
Eu já contei moeda pra voltar pra casa,
Se é que deus não me deu asas, ainda vou descobrir,
Vou descobrir.

Parece que eu virei compositor,
Um burocrata de refrães musicais,
Autodidata das questões do amor,
Um poeta fingidor, cantando a dor dos mortais.
A minha vida é mesmo um bem comum,
Tanto que qualquer um podia escrever.
O meu pretérito mais que perfeito,
Conta a história de um sujeito
Que não tem do que se arrepender.

Eu não nasci sabendo, eu aprendi vivendo,
E, até hoje, inda não sei o que isso quer dizer.
E não tem feriado, eu já ralei um bocado,
Se lhe soa complicado é porque não é você.
Mas sei que a vida é boa, eu não nasci à toa,
O tempo ri, enquanto voa, e, o meu alento,
É agradecer, agradecer.

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