Tarde de Chuva Num Quarto de Estância
Assim se passa esses dias
Entre milongas ponteadas
Ouvindo a chuva bater
Contra as pedras da calçada
Chapéu de copas batidas
Sem cabeças dependurados
Olhando a chuva cair
Da aba larga dos telhados
Um rádio velho, de mesa
Com sua voz quase apagada
Vai nos contando entre chiados
De casa e várzea alagadas
Um calendário de datas
Nos conta os dias passados
Com versos do Velho Jayme
E cavalos desenhados
Meus livros (tantos relidos)
Em suas folhas amarelas
Vão descansando seus versos
Na estante, junto à janela
Um freio novo sem boca
Botas sem pés e sem calos
Um rebenque, um par de esporas
Na espera dos cavalos
Bancos com marca da estância
(As mesmas que andam no couro)
Da gadaria espalhada
Dos fletes baios e mouros
Vez em quando a chuva para
Na sua cisma de trovente
Mas segue pingando sempre
Do cinamomo da frente
E a janela se emoldura
Feito um quadro na parede
E a chuva segue chovendo
Pra o campo matar a sede