De Noite No Galpão
O pai de fogo do universo se bolqueia
A noite chega arrastando as nazarenas
Traz tropilhas de estrelas no cabresto
E uma brisa sopra morna e serena
Noite clara que até parece um dia
Pra uma caçada não há Lua mais buena
Recorro os campos da memória num segundo
Pra colher versos, que a safra não é pouca
O fogo grande em labaredas se consome
Pego a guitarra e a voz já meio rouca
Vai recitando velhos poemas campeiros
Que um a um, saltam da alma para boca
Embuçalo a xucreza do velho Jayme
Pra mesclar com o telurismo que há aqui
Na poesia universal do Silva Rillo
Vou passar a vida cevando um mate por ti
E no canto claro do guri campeiro
Milongueio Aureliano e Noel Guarany
Um trago largo vai dando mais inspiração
Pra o payador que canta o pago na essência
Busco na lida as razões pra um verso xucro
Que traz nas rimas todo o encanto da existência
Velho mistério que o gaúcho tem consigo
Este amor grande pela campeira querência
Vem de guri a mania de cantar versos
De andar disperso, payando o meu pago
Na boca da noite, na quietude do galpão
Mais vale a ilusão no canto que eu trago
Do que a verdade crua que se vê nas ruas
Que deixa esse nosso mundo mais amargo