A Casa da Mariquinhas

Joao Tavares, Rabih Abou-Khalil

É numa rua bizarra
A casa da Mariquinhas
Tem na sala uma guitarra
Janelas com tabuinhas
Tem na sala uma guitarra
Janelas com tabuinhas

Vive com muitas amigas
Aquela de quem vos falo
E não há maior regalo
Que vida de raparigas
É doida pelas cantigas
Como no campo a cigarra
Se canta o fado à guitarra
De comovida até chora
A casa alegre onde mora
É numa rua bizarra
A casa alegre onde mora
É numa rua bizarra

Para se tornar notada
Usa coisas esquisitas
Muitas rendas, muitas fitas
Lenços de cor variada
Pretendida, desejada
Altiva como as rainhas
Ri das muitas, coitadinhas
Que a censuram rudemente
Por verem cheia de gente
A casa da Mariquinhas
Por verem cheia de gente
A casa da Mariquinhas

É de aparência singela
Mas muito mal mobilada
No fundo não vale nada
O tudo da casa dela
No vão de cada janela
Sobre coluna, uma jarra
Colchas de chita com barra
Quadros de gosto magano
Em vez de ter um piano
Tem na sala uma guitarra
Em vez de ter um piano
Tem na sala uma guitarra

Pra guardar o parco espólio
Um cofre forte comprou
E como o gás acabou
Ilumina-se à petróleo
Limpa as mobílias com óleo
De amêndoa doce, e mesquinhas
Passam defronte as vizinhas
Pra ver o que lá se passa
Mas ela tem por pirraça
Janelas com tabuinhas
Mas ela tem por pirraça
Janelas com tabuinhas

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