Ciranda do Amor
Meu coração é mutante
Pulsa de amor e de ódio
Chora, ri ao mesmo tempo
Ora perde, ora pódio
Grita, introspectivo
Mas nunca foi vingativo
Em todo seu episódio
Apaixonante, melódio
Em sua caixa sonora
Acelera quando sente
O calor de quem adora
Se remexe, me abala
Até parece que fala
Pra meu amor lá de fora
É cutuco de espora
Ferroando minha alma
Miguelão me beliscando
Apressando minha calma
Fala de mim, só pra eu
É um grande amigo meu
Me felicita, na palma
Êh ÔH! Êh AH! Ta dito ta falado
Ama quem sabe amar
Sem ele não sou viv´alma
Literalmente, tô morto!
Tem coração morto-vivo
Batendo só, absorto
Em onda descompassada
Como quem não sente nada
Nem moleza, nem conforto
É barco sem vela, sem porto
Navegando à deriva
Num cemitério de vivos
Sem os olhos duma diva
Doce de leite amarga
O riso murcha, se larga
Nem a fome traz saliva
A emoção não lhe criva
A chuva cai e não molha
O sol quente não aquece
O olho aberto, não olha
O tempo pára de vez
Na boca vem a mudez
Árvore grande desfolha
Êh ÔH! Êh AH! Ta dito ta falado
Ama quem sabe amar
A cortiça não arrolha
O vinho torna vinagre
A orquestra desafina
Nenhum santo faz milagre
Nem riacho come beira
Nordestino não faz feira
Não há rei que se consagre
Vira juízo de bagre
Amuado em avesso
Todo sinal é vermelho
Não tem menino travesso
Casa de tijolo cai
A lua quieta não sai
O final vira começo
O coração não tem preço
Nada paga o qu´ele sente
Bate forte pelos outros
É culpado, inocente
Se ele quer, ninguém muda
Essa coisinha miúda
Um vulcão incandescente
Êh ÔH! Êh AH! Ta dito ta falado
Ama quem sabe amar