Bullying
Bullying, bullying, bullying, bullying
João tem 8 anos, os putos chamam-lhe cromo
É o mais baixo da turma, então chamam-lhe gnomo
Cospem-lhe, batem-lhe, fazem rodinhas
Um gordo como tu só beija gordinhas!
Hora do almoço para ele não é recreio
É o jogo das escondidas para não ouvir que é feio
Ele fala com as cortinas para se camuflar do meio
Ele encontrou o seu refúgio na casa de banho
Ele chora e pergunta porque é que eu tenho esta cara
Este corpo, esta doença que me faz sentir que é rara?
Desabafo com os meus pais, eles dizem para não ligar
Será que eles entendem o que estou a passar?
Gostava de ter amigos como o Chico
Ele goza comigo mas com ele me identifico
Tipo, tipo não goza tanto
Só, no entretanto, sozinho
Ele não goza, acompanhado não garanto, sinto-me sozinho
Ninguém gosta de mim
Mas eu não tenho a culpa de ter nascido assim
Há uma menina cá na escola que sofre o mesmo que eu
Chamam-lhe morta-viva porque o pai faleceu
Tentei falar com ela, só quis ser amigo
Mas ela diz que é gozada se a virem comigo
Para eu não levar a mal, que até sou querido
Como posso eu levar a mal o meu primeiro elogio?
Bullying, bullying, bullying, bullying
‘Tô ferido. Acho que ‘tô a sentir
O amor dos adultos a querer progredir
Não correspondido
Quero ser diferente para um dia a poder conseguir
Eu não sei como é que eu vim à terra, não pedi p’a nascer
O meu dia é uma guerra e eu só quero não sofrer
Só peço para ser aceite, se é que me faço entender
Eles são água, eu sou azeite, é difícil dissolver
Eu quero pertencer
Que mais posso eu fazer
Quando o preconceito é mais forte que o sujeito
E o ser imperfeito foi quem meteu o defeito?
Tô a sentir que quero morrer
Mudei de escola, já não ia às aulas, tô desesperado
É o meu primeiro dia aqui na escola ao lado
De repente, novamente
Discriminação à frente
Olha a bola de Berlim, tanto creme que é nojento
Levei tanto no primeiro dia que já não aguento
Voltar lá, o que seria? Vou ficar no apartamento
Luz fechada
Quarto escuro
Só aqui tô seguro
A minha mãe ‘tá preocupada
Finalmente…
Joni… És um gordo, um gordo feio, nunca vais ser ninguém
Joni, estúpido, nunca vais ser ninguém
‘Bora! Passaram anos de traumas
Drunfado ‘tão tô nas calmas
Relembro, vejo as caras
Se eu me matar eles vão bater palmas
Vou à gaveta da mamã, pego a beretta do avô
Escrevo uma carta e amanhã vão saber que Deus me levou
Sempre sonhei em ‘tar morto
Acho que a minha mãe devia ter feito um aborto
Bullying, bullying, bullying, bullying