Milonga da Moça Gorda

Arthur de Faria

A moça gorda sorri para o nada,
Ajeita o vestido,
E segue plantada à espera
À espera de um ônibus que não virá.
A moça gorda não cansa de esperas.
A vida da moça gorda é, toda ela, espera.
A amiga da moça gorda nem ao menos é bela.
É claro:
É magra a amiga da moça gorda.
Não é feia a moça gorda.
É gorda.


Tem o peso e a solidez
Das coisas que se quer próximas
Mas não se quer pra si:
Uma família alemã,
Uma estátua eqüestre que se corrói,
Um ex-melhor amigo de tantos anos.
A compaixão dos desumanos.


A moça gorda é um bilhete do tempo que amortece seus calores num vazio que enche a sala.
A moça gorda não chora, não fala, nem cala.
Tão crua, a moça, em seus castos anos,
Aprendeu que a vida mata.

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