Tarde crua
Era fria tarde gente ia e vinha
Algo me dizia fique em prontidão
Não sei se sonhava mas era tudo muito cru
Mais claro que a realidade e eu me sentia nu
A nave estava pronta prá partir
Da sacada eu avistava os aviões
Um velho índio cachimbava por ali
E apontava os delirantes nos salões
Pessoas pouco saudáveis mas um tanto elegantes
Eu lembrei da velha história do elefante branco
De que servem aquelas pernas nas meias ligantes
A compensar uns olhos cheios de cimento e pranto
- E que olhos tão gritantes!
Não sei se eles procuram a alma irmã
Talvez pertençam a outro livro ou tempo ou chão
Sem herói sem lei sem uma vida sã
E a cada instante com mais um desejo vão
Eu me perguntava sobre o que era o belo e a verdade
Vendo leiloar-se um falso anel de camelô
E vivi as grandes dores daquela cidade
Gente sem ter onde ir e eu prá onde vou
Vou...
Não sei se é a chave da questão
Mas senti um leve cheiro de hortelã
E enquanto as naves turbinavam combustão
O índio fez um rito curandeiro com seu clã